segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Diversidade – Quando uma pergunta silenciosa rompe com muitos silêncios



            Toca o sinal. Uma forte movimentação, passos acelerados vão agitando os corredores. A vida vai se confinando nas salas, ou poderíamos dizer que múltiplas vozes vão se encontrando em um espaço singular, fechado no espaço físico da sala de aula, onde existem possibilidades de diálogos reconstrutores de realidades.

Todos entram e sentam. Sentar-se é uma metáfora interessante para pensarmos uma certa perspectiva de escola. No entanto, com agito contemporâneo este sentar-se ganha novas significações. Ganha a dimensão de espaço-tempo para escutar, concentrar-se para olhar e pensar mais devagar. Sentados, todos se organizam, olhares atentos para saber as atividades do dia.

Na sala do 4º ano do ensino fundamental, sentados, escutam o tema do dia: estudar os símbolos da Páscoa. Será utilizado o laboratório de informática, pois é preciso utilizar a Internet. Após pesquisar, será produzida uma apresentação de slides - explicava a voz do comando que estabelecia o que fazer.

Abre-se o laboratório. Grande movimentação, pois todos querem sentar sozinhos nos computadores. Mas, não tem computador para todos. Após algumas discussões, tudo resolvido e formam-se algumas duplas. Começam a pesquisa... sino, ovelha, uva... e outros símbolos que haviam sido listados pela voz do comando. No entanto, uma voz silenciada, promove um silencio coletivo no espaço. Após perguntar: “- Eu não sei o que é a Páscoa”.

Aquela pergunta inicialmente causou irritação. O silêncio da turma soava como uma espera por palavras. Palavras que apenas o professor naquele momento poderia dizer. E se assumir professor naquele momento era dar voz para aquele silêncio. Pergunta silenciosa que rompeu com vários silêncios. Mas, naquele momento o professor não falou. A pergunta ecoava e batia em vários pilares internos daquele professor. A voz do comando que estabelecia, agora se sentia desafiada e tocada. Vários colegas tentaram dar sua voz, buscando cobrir aquele silêncio que ecoava na sala. No entanto, após longa pausa, o professor falou. Aquele acontecimento produziu algo que o professor não conseguia explicar. Era um sentimento que parecia ter desafiado ele a trocar suas vestes. Dar voz aos silêncios. Chamou todos para o centro da sala e organizou uma roda de conversas. Pediu para que o silêncio se tornasse voz. Mudou sua aula com aquele acontecimento. Combinou com a turma que cada um iria organizar um slide apresentando como sua família vivia esta data.

Trabalhou-se durante duas semanas na pesquisa e produção dos slides. A atividade que acabou virando projeto finalizou em um seminário. Todos ansiosos esperavam ver seus trabalhos projetados “na tela grande” como diziam. Muitas vozes ecoaram naquela sala durante aquela tarde. Uma multiplicidade de olhares foi apresentada. Um conhecimento colocado em movimento. Aquela pergunta silenciosa promoveu a ruptura de muitos silêncios. Aquela turma aprendeu que as verdades são múltiplas assim como as realidades. Naqueleaturma de 4ºano a vida pulsou com outra intensidade. Conta-se que aquele professor que antes de perceber-se professor, acreditava-se voz de comando, aprendeu com aquela pergunta-martelo, que a diversidade da vida esta em dar voz aos silêncios, em abrir-se para o múltiplo, e hoje este professor arrisca-se a vir aqui compartilhar esta aprendizagem que muito sua maneira de agir pedagogicamente mudou.

Escrito por Luís Carlos Zuze Dhein
*Escrevi este texto para uma atividade do curso de Produção de Material Didático para Diversidade,

Um comentário:

  1. Nossa Luis, que texto maravilhoso! Feliz aquele que tem a humildade de despojar-se de tudo que sabe e ser capaz de aprender com uma criança.Como são ricos esses momentos, em que sutilmente, a vida nos mostra de maneira tão singela o quanto podemos aprender e ensinar, apenas enxergando e ouvindo um ao outro, seja esse outro quem for.Desejo que voce, e todo aquele que se dispor a educar e ensinar, tenham sempre essa maravilhosa capacidade de estarem abertos e atentos a essas oportunidades que a vida proporciona todos os dias, mas que poucos percebem! Um grande abraço!

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