Discutir
o campo da religião na educação é uma tarefa delicada e complexa.
Torna-se delicada pois é um campo que vai ao encontro das crenças
de cada um, suas esperanças, muitas vezes suas fontes de vida e sua
interioridade são tocadas nesta discussão. É um campo complexo na
medida em que além das questões de subjetividade, entra em cena um
conjunto de dispositivos políticos, psíquicos e sociais. Sendo
assim, neste texto busco uma reflexão de cunho mais pessoal, pautado
na minha experiência. E aqui não penso experiência como algum
acontecimento do mundo, algum conhecimento sobre o
mundo, algo científico e sim como uma vivência vivida em toda sua
intensidade e que tenha me tocado, no sentido, de produzir novas
formas de pensar.
Desde
pequeno aprendi que era preciso ter uma religião. Que existia nossa
religião – aquela que aprendi com meus pais – e os católicos.
Sempre tive muito curiosidade em saber por que muitos dos meus amigos
não frequentavam a mesma Igreja que eu. Este movimento de
inquietação foi me acompanhando durante toda a infância,
adolescência, até na faculdade. Na medida que interagia com novas
formas de perceber o mundo e a vida, por meio de outros olhares
religiosos, conseguia refletir e olhar para minha própria história
religiosa, ora assustando-me, ora encantando-me, ora compreendendo o
colorido que brotava destes encontros. E penso que seja uma pista
para promover algumas reflexões, no sentido de pensar a prática com
o ensino religioso.
Como
pensar o ensino religioso numa escola laica? Penso que existem
algumas possibilidades para responder esta pergunta. Acredito que o
ensino religioso pode ser um espaço fomentador das discussões sobre
a diversidade religiosa. Não penso um ensino religioso como um
“ensinar religiões”, um campo moralizador. E sim, como um
compreender que o mundo é diverso e plural, existindo muitas formas
de religiosidade e de olhar e se relacionar com a vida. E é este
movimento de compreensão do ensino religioso, como espaço de
pluralidade e diversidade, abertura para o diálogo e o conhecimento
de novas perspectivas, que acredito que podemos avançar, pelo menos
dar um passo a mais, na discussão da diversidade religiosa na
escola.
Em
muitas que trabalhei discutia-se o ensino religioso, os símbolos que
estavam presente e foram muitas as discussões que iam surgindo. Era
comum dar-se conta de cruzes nas salas. Repensar a Páscoa e o Natal
no cotidiano da prática pedagógica sempre era um dos maiores
desafios. Pois geralmente existe uma cultura enraizada que tenta
manter a “tradição”. No entanto, na perspectiva que estamos
discutindo, importante seria promover múltiplos estudos,
genealógicos e pluriculturais sobre este acontecimento em diversas
perspectivas e crenças. Não na perspectiva de confronto com essa e
aquela religião, e sim promover um espaço mais colorido e vivo, com
movimentos de histórias - muitas vezes silenciosas ou em estado de
invisibilidade social - e formas de viver a vida.
Por
fim, colocar a diversidade religiosa em discussão, exige alguns
afastamentos necessários para com aquilo que muitas vezes parece
normal, pertencente e quase natural na prática pedagógica. Exige
abrir-se para a existência de outras formas de compreender o mundo.
Não na tentativa de encontrar um consenso, mas sim de valorizar a
potência de cada perspectiva.
Luís Carlos Zuze Dhein
Texto elaborado para uma atividade do curso de Produção de Material Didático para a Diversidade
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