Toca
o sinal. Uma forte movimentação, passos acelerados vão agitando os corredores.
A vida vai se confinando nas salas, ou poderíamos dizer que múltiplas vozes vão
se encontrando em um espaço singular, fechado no espaço físico da sala de aula,
onde existem possibilidades de diálogos reconstrutores de realidades.
Todos
entram e sentam. Sentar-se é uma metáfora interessante para pensarmos uma certa
perspectiva de escola. No entanto, com agito contemporâneo este sentar-se ganha
novas significações. Ganha a dimensão de espaço-tempo para escutar, concentrar-se para olhar e pensar mais devagar. Sentados, todos se organizam,
olhares atentos para saber as atividades do dia.
Na
sala do 4º ano do ensino fundamental, sentados, escutam o tema do dia: estudar
os símbolos da Páscoa. Será utilizado o laboratório de informática, pois é preciso utilizar a Internet. Após pesquisar, será produzida uma apresentação de slides - explicava a voz do comando que estabelecia o que fazer.
Abre-se
o laboratório. Grande movimentação, pois todos querem sentar sozinhos nos
computadores. Mas, não tem computador para todos. Após
algumas discussões, tudo resolvido e formam-se algumas duplas. Começam a
pesquisa... sino, ovelha, uva... e outros símbolos que haviam sido listados
pela voz do comando. No entanto, uma voz silenciada, promove um silencio
coletivo no espaço. Após perguntar: “- Eu não sei o que é a Páscoa”.
Aquela
pergunta inicialmente causou irritação. O silêncio da turma soava como uma
espera por palavras. Palavras que apenas o professor naquele momento poderia
dizer. E se assumir professor naquele momento era dar voz para aquele silêncio.
Pergunta silenciosa que rompeu com vários silêncios. Mas, naquele momento o
professor não falou. A pergunta ecoava e batia em vários pilares internos
daquele professor. A voz do comando que estabelecia, agora se sentia desafiada e tocada. Vários colegas tentaram dar sua voz, buscando cobrir aquele silêncio
que ecoava na sala. No entanto, após longa pausa, o professor falou. Aquele
acontecimento produziu algo que o professor não conseguia explicar. Era um
sentimento que parecia ter desafiado ele a trocar suas vestes. Dar voz aos
silêncios. Chamou todos para o centro da sala e organizou uma roda de
conversas. Pediu para que o silêncio se tornasse voz. Mudou sua aula com aquele
acontecimento. Combinou com a turma que cada um iria organizar um slide
apresentando como sua família vivia esta data.
Trabalhou-se
durante duas semanas na pesquisa e produção dos slides. A atividade que acabou
virando projeto finalizou em um seminário. Todos ansiosos esperavam ver seus
trabalhos projetados “na tela grande” como diziam. Muitas vozes ecoaram naquela
sala durante aquela tarde. Uma multiplicidade de olhares foi apresentada. Um conhecimento
colocado em movimento. Aquela pergunta silenciosa promoveu a ruptura de muitos
silêncios. Aquela turma aprendeu que as verdades são múltiplas assim como as realidades. Naqueleaturma de 4ºano a vida pulsou com outra
intensidade. Conta-se que aquele professor que antes de perceber-se professor,
acreditava-se voz de comando, aprendeu com aquela pergunta-martelo, que a
diversidade da vida esta em dar voz aos silêncios, em abrir-se para o múltiplo,
e hoje este professor arrisca-se a vir aqui compartilhar esta aprendizagem que
muito sua maneira de agir pedagogicamente mudou.
Escrito por Luís Carlos Zuze Dhein
*Escrevi este texto para uma atividade do curso de Produção de Material Didático para Diversidade,